MAQUINARIA ROCK FEST (1.º dia): Biohazard, Suicidal Tendencies, Misfits, Sepultura, Ratos de Porão, Matanza, etc.
17/05/2008 – Espaço das Américas – São Paulo/SP
Alguns instantes antes de picar a mula rumo ao festival, fiquei tentando puxar pela memória quando havia sido a última vez que freqüentei uma dessas brutais maratonas de shows consecutivos de rock, semelhante a qual estava prestes a encarar pela frente mais uma vez. Me lembrei de algumas, como por exemplo, edições dos velhos festivais “SP Punkâ€? e “National Garageâ€?, do “A Um Passo Do Fim Do Mundoâ€?, entre outros. Em suma: se você não estiver ali a ofício, só sendo um extremo amante de rock para rigorosamente assistir à todas as dezenas de bandas tocarem, agüentar firme e forte aos vários kilowatts de som na sua orelha por, no mínimo, mais de 10 horas consecutivas, além de ficar de pé por horas, sem comer e beber direito, e por aí vai. Na boa, isso não é pra qualquer um. Ainda mais, quando você vem de outra cidade, tendo que encarar mais algumas horas de busão e metrô pra chegar ao local do evento, como no meu caso. É… vida de proletário, maloqueiro e amante de um bom e velho roque paulêra não é fácil. Mas, o que não fazemos para ver, ao vivo e em cores, algumas das nossas mais prediletas bandas, né? Sobretudo algumas que você aguarda há anos para ver. Tudo acaba virando fichinha.
Por exemplo, até a véspera do evento eu já estava puto e conformado em perder o festival, e eis que, após driblar uma série de imprevistos e contar com a fundamental ajuda de amigos, alcancei a dádiva e descolei credencial e locomoção ao evento (eterno obrigado, Déa e Ney!). O mais legal, que após tanto esforço, quase botei tudo a perder: cheguei cedo ao Espaço das Américas, umas 15h, e não havia começado nenhum show ainda, sendo que o início dos shows estavam previstos para as 14h. Com isso, fui com amigos fazer um aquecimento álcoolico num buteco próximo dali, cerveja vai, cerveja vem, eis que perco a noção do horário e já eram quase 17h, hora limite para a entrada da imprensa! Saí correndo em disparada ao pico, com o verdadeiro cu na mão de não poder mais entrar, e simplesmente perder o festival inteiro. Seria muito azar, vixi, não quero nem pensar nisso, ia ser a vacilada do século. Enfim, acabou dando tudo certo, não havia fila alguma para entrar, e não levei nem dois minutos para adentrar o Espaço das Américas. Pronto, fudeu tudo, que venha a maratona!
Mal entro no gigantesco galpão, tenho minha visão ofuscada pelo baita sistema de jogo de luzes, coisa de cinema, nunca vi algo igual. Para o show de algumas bandas esse jogo de luzes deu todo um clima especial ao show; para outras nem foi utilizado; e para outras erraram feio na dose, utilizado de uma forma pra lá de excessiva, causando considerável desconforto e irritação aos olhos. E assim, aos poucos fui fazendo o reconhecimento do lugar, prestando atenção em cada milimetro da mega estrutura que foi montada para suportar o evento Maquinaria Rock Fest, uma espécie de edição nacional do famoso festival espanhol “Vega Rock”. Só digo uma coisa: estrutura monstrual. Além da citada iluminação, haviam os dois super palcos, um ao lado do outro, com direito a trilhos para a rápida troca de toda a estrutura de bateria, desta forma não perdia-se tempo em desmontar e montar as baterias dos artistas, a bateria já era montada fora do palco e trazida num stage móvel. Os shows aconteceram alternadamente e consecutivamente nestes dois palcos, um show após o outro, no máximo cinco minutos após o término de uma apresentação – algumas vezes nem isso – já iniciava-se a próxima. As principais atrações nacionais e internacionais tocavam no palco principal, chamado Palco 1, com duração de 45 minutos a 1 hora em média; e as demais atrações nacionais tocavam no palco ao lado, o Palco 2, com duração de 30 minutos. Outra coisa que foi notória, foi o investimento pesado no equipamento de som. Animal. De qualquer metro quadrado daquele imenso lugar ouvia-se tranquilamente as bandas tocarem, coisa que não ocorreu no ano passado quando fui assistir Buzzcocks e Less Than Jake neste mesmo Espaço das Américas, ocasião em que a aparelhagem e distribuição do som no ambiente não estavam num bom dia. Sim, de todos os 13 shows que vi, houveram os em que o som estava espetacular e outros em que o som estava pífio. Na boa, os shows dessa noite que não sairam legais em termos de som, ouso citar que foi por culpa apenas da respectiva equipe técnica da banda, e da banda em si, que não souberam fazer ajustes e passagens de som decente.
Outro lance legal do evento, foram os telões instalados ao alto do galpão, nos quais eram exibidos os shows, estilo transmissão de tv, várias câmeras no palco filmando, assim, era possível ver nos mínimos detalhes guitarrista ciclano solando ou vocalista fulano berrando (e babando), por exemplo. Super destaque também para os painéis eletrônicos instalados ao fundo dos palcos (no underground, o famoso ‘pano/bandeira de fundo’), nos quais eram sempre exibidos o logotipo e nome da bandas – em meio a animações em computação gráfica – que estavam tocando naquele instante, evitando assim que um perdido de plantão chegasse do seu lado e te perguntasse “que banda é essa que tá tocando?”. Grande sacada. Em contrapartida, a pergunta “qual banda vai ser a próxima a tocar?” era a que mais se ouvia naquele lugar. Tudo porque a ordem das bandas foi uma bagunça só e não seguiu a ordem divulgada na mídia e no site do evento. Teve gente que deixou pra chegar mais tarde, para ver só as atrações maiores / gringas, e caiu do cavalo. Quem foi por essa ótica certamente acabou perdendo pelo menos o Misfits por exemplo, que iniciou seu show às 19h30 da noite. Eu, no caso, de todos os quinze shows acabei perdendo apenas os dois primeiros de abertura, das bandas Sun Turns Black e Child Of Flames.
Sem falar que, uma certa hora em fui ao banheiro, ouvi um integrante de uma banda (que não vou citar) reclamando que o horário e ordem das bandas se apresentarem estavam sendo trocadas de última hora por diversas vezes.
Bem, vamos aos shows então. Em meio a essa análise inicial que eu fazia, aparece o logotipão do Korzus escrito no supracitado painel, e assim, às 17h em ponto a banda começava a profanar o seu maléfico thrash metal no palco principal. E a veterana banda paulistana não fez feio, em ótima fase fez um baita show, recheado por sons de diversas fases do grupo como a fodassa “Wall Of Death”, e com direito a uma bem executada cover de “Raining Blood”, do lendário Slayer, encerrando em grande estilo a meia-hora de um show que foi dedicado em memória à Wander Taffo, um dos mestres da guitarra no Brasil, que já havia tocado na banda, e veio a falecer poucos dias antes do evento. R.I.P.
Aproximadamente 5 minutos depois, os paulistanos do Threat já iniciavam sua apresentação no palco 2, cheios de energia e vontade. Eles fazem um metal com uma pegada mais pop, e acrescida a isso umas pitadas de thrash, tudo muito semelhante ao que o Metallica faz, tanto sonoridade como se portam no palco, e até mesmo a formação da banda é também um quarteto idêntico à banda norte-americana citada. Não sou muito fã de músicas longas demais, o que ocorre na maioria das músicas do Threat, então acaba que ficou sendo um show meio cansativo, uma performance de meia-hora com sensação de três horas. Um bom show tecnicamente falando, porém a banda não me despertou nada de mais.
Pra levantar o meu ânimo abaixado pela banda anterior, nada melhor do que um show do clássico Ratos de Porão. Fazia nada mais nada menos do que cinco anos que eu não via uma performance dos caras. Na última vez que presenciei eu ainda morava em Curitiba, o Gordo era gordo e ia passar pela cirurgia de redução de estômago se não me engano, e o Juninho tava fazendo seus primeiros shows nas quatro cordas da banda. De fato, faz tempo. Matei as saudades em grande estilo, uma puta banda, com uma puta aparelhagem a favor, então não deu outra, fizeram um puta show, entre os melhores da noite. Os 40 minutos do show foram suficientes para tocarem um set que passeou rapidamente por todas as épocas da carreira, tocando “Realidades da Guerra”, “Sofrer”, “Descance em Paz”, etc., satisfazendo assim aos headbangers, thrashers e hardcorers presentes. O R.D.P. estava há mais de meio ano sem tocar, então faltou o gás ao Gordo em alguns momentos, mas nada que tenha comprometido. Destaque para a matadora seqüência uma após a outra de “Aids, Pop, Repressão”, “Beber Até Morrer” e “Crocodila”. Show fuderoso e na medida!
Voltando ao palco 2, o Motorocker iniciava aquela que seria a apresentação mais conturbada da noite. Notadamente um “peixe fora do aquário”, a banda, que toca um hard rock blueszerão, fez de tudo e mais um pouco para atrair a atenção da platéia (com direito a exótica cover, com viola e tudo, de Tião Carreiro), mas não teve jeito. A passagem de som do Misfits no palco principal estava muito mais concorrida do que o show da banda curitibana. E sob esse panorama, o Motorocker, parecendo um AC/DC versão nacional caipiresca, deu o sangue no palco, enquanto Jerry Only afinava seu monstruoso baixo no outro palco, e com isso, já ouvia-se os primeiros gritos de “Misfits! Misfits! Misfits!” nos intervalos entre as músicas do show do Motorocker. Aliás, este foi um dos fatos mais lamentáveis e deprimentes da noite. Como fã de Misfits que sou, engrossei o coro berrando o nome da banda pois já estava ansioso pelo inicio, e com isso ficou aquela sensação de “interminável show” da banda curitibana, que apesar de nervosa em palco, não era uma banda ruim não, apenas não era apropriada para o evento. Mas, se for para analisar friamente e com a razão, houve um grande erro da organização em deixar a banda Misfits permanecer no palco após sua passagem de som. Eles estavam de instrumentos empunhados, prontos pra começar o show, incitando e interagindo com a multidão, tudo isso bem antes da hora prevista para iniciar seu show, pois não havia esgotado ainda o tempo da banda Motorocker tocar. Com isso criou-se aquela puta saia justa, esmagadora maioria em frente ao palco do Misfits afoita pelo inicio do show, enquanto no outro palco estava uma banda tocando pra quase ninguém e puta da vida com o fato. Além disso, o Misfits fez sua passagem de som com o volume alto, pouco se lixando que tinha banda tocando no outro palco, sem falar no fato (engraçado porém escroto) do Jerry Only dos Misfits dando ‘tchauzinho’ para a banda Motorocker, e falando algo no microfone do tipo “acabem o seu show, nós queremos começar”. Prato cheio para os fãs da banda estadunidense, que foram à loucura, mas na boa, achei um tremendo desrespeito tudo o que rolou, são coisas que poderiam ser facilmente evitadas…
Não deu 1 minuto após o término do show, eis que o Misfits sai do palco, há um apagão geral de luzes do local, e soltam um som de background pra lá de fúnebre: estava iniciando ali o show de horror do lendário Misfits. Após sentir arrepios com aquele clima, na hora identifiquei que se tratava de um tema sonoro de algum clássico filme de terror, porém não estava com a certeza de qual filme era. Nesse momento, enquanto o tema continuava tocando – ficou por cerca de uns 2 minutos – e a banda voltava ao palco para enfim iniciar o seu show, nomes de vários filmes me vieram à cabeça, até que, conversando rapidamente com um amigo, chegamos à conclusão de que era o tema do filme “Halloween”. E adivinha com qual música o Misfits deu início à sua apresentação? Essa mesmo que leva o nome do filme, mais óbvio impossível, dá-lhe dia das bruxas no talo! Era apenas o início de um fuderoso show, recheadíssimo pelos maiores clássicos do grupo, pra qualquer fã não botar defeito, levando aos prantos e gritos pra lá de histéricos centenas de fãs femininas da banda, muitas delas certamente vendo pela primeira vez sua banda preferida ali em palco. Para mim, que os vejo em ação pela terceira vez, não me surpreendi muito com o show, apesar de um show diferente (e com membros diferentes) das outras vezes que vi, foi bem dentro do que eu esperava, nada de surpresas. Em cerca de 45 minutos executaram inúmeros hits – em sua maioria da fase Danzig – todos cantados em uníssono coro pelo público presente, como “Astro Zombies”, “I Turned Into A Martian”, “Attitude”, “Rat Fink”, “Hybrid Moments”, “Helena”, “Die, Die, My Darling”, “Last Caress”, “Skulls”, “We Are 138”, entre vários outros, com destaque para a dobradinha da fase Graves “American Psycho” (com direito àquela pavorosa introdução) e “Dig Up Her Bones”. Para quem não sabe, além do original misfit Jerry Only no baixo/vocal, completam a banda Dez Cadena na guitarra e Robo na bateria, ambo ex-membros do Black Flag. Com isso, executaram uma óbvia cover do Black Flag, para “Thirsty and Miserable”, que foi o que me surpreendeu no show, por não ter sido a manjada “Rise Above”, tocada exaustivamente em shows ao redor do mundo, incluindo no show anterior do Misfits no Brasil, em 2003, época em que Marky Ramone empunhava as baquetas. Enfim, apesar do som ter soado um pouco embolado em muitos momentos, os Misfits fizeram um show perfeito, sem erros e certamente inesquecível para maioria presente. Multidão alegre, contente e saltitante era o que se via ao término do show. Sou da opinião de que esse Misfits de hoje é apenas uma caricatura do que existiu um dia. Mas, mesmo não sendo nem sombra do que a banda foi no passado e atualmente ser apenas um Mi$fit$ caça-níqueis, não há como negar que ao vivo são competentes no que fazem e sabem como poucos executar a arte do business-entertainment. Misfits é uma entidade do punk rock, é mais do que uma banda, é uma marca forte, e sempre onde estiver vai arrastar multidões.
Na seqüência era a vez dos paulistas do Embrioma não deixarem pedra sobre pedra no outro palco. Confesso que não conheço direito a banda e não prestei muita atenção no show deles, pois após o Misfits o cansaço já começava a dar os seus primeiros sinais, e utilizei esta meia-hora do show da banda para ir até ao superlotado banheiro, no qual devo ter perdido ao menos uns 15 minutos na fila, e depois dei uma repousada no imundo chão. O mínimo que prestei atenção, achei interessante a pegada da banda, um lance meio metal com rock industrial, com um vocalista pra lá de furioso, teclados e sintetizadores malucões e uma bateria destruidora, e pelo que vi, o público parece ter gostado bastante do conjunto e aparentavam possuir uma boa legião de fãs e seguidores.
Mal termina o show do Embriona, um novo apagão geral no Espaço das Américas, e começava ali talvez o show mais esperados da noite pela nação headbanger: berros e mais berros clamando “Sepultura! Sepultura! Sepultura!“, já tradicional nos shows da banda. Em meio à escuridão, o painel ao fundo ia mostrando um a um os nomes e fotos de cada um dos integrantes do grup
o mais cabeludo dos seres do universo e fiquei balançando minha cabeça que nem um headbanger e berrando junto com clássicos como “Refuse / Resist”, “Arise”, “Roots Bloody Roots”, “Territory” e “Orgasmatron”. Show monstruoso, e a banda mostrou com esse show que ainda possui garra, autoridade e plena capacidade de tocar em frente a carreira por muito mais anos, por mais que muitos a deêm como acabada há tempos.
Fazendo jus ao caráter heavy metal primordial do festival, eis que os noruegueses do Tristania deram prosseguimento a festa. A banda faz um som na linha do chamado metal gótico / metal ópera, sonoridade da qual devo confessar, acho insuportável. Assisti cerca dos três primeiros minutos da apresentação, ou seja, nem a primeira música inteira, e as duas únicas coisas que ficaram na minha mente de lembrança da banda foram: a bela vocalista Mary – uma daquelas típicas morenas belíssimas; e o horroroso guitarrista que era a cara do Beetlejuice fazendo uns vocais guturais bizonhos. Pude perceber que a banda tem um considerável contingente de fãs que fielmente assistiram e vibraram com o concerto. Enfim, a banda fez sua parte, um show seguro, tranquilo, que para mim passou despercebido. Aproveitei os 50 minutos de show deles para tirar aquela pestana salvadora, completamente deitado no chão do lugar, recuperando as energias do show do Sepultura, pois dali a instantes estava pra começar aquela que era a performance mais esperada da noite pela minha pessoa, a do SxTx. Por fim, cabe informar que neste momento era a banda Matanza quem deveria estar se apresentando, e o Tristania era a banda escalada para encerrar o evento, mas a organização trocou ordem de várias bandas ao longo do evento, como já mencionado neste texto.
Sem mais delongas, ao apagar das luzes do show do Tristania, já surgia no telão do palco principal o lendário logotipo do Suicidal Tendencies, motivo suficiente para o enorme mar de pessoas começar a ficar em polvorosa, se amontoando, se apertando e berrando “Suicidal!, Suicidal!”. Ainda no escuro a banda entrava de fininho para posicionar-se no palco e a casa veio a baixo quando as luzes foram acessas e mister Mike Muir entra todo serelepe percorrendo a extensão inteira do palco, dum lado ao outro, iniciando ali o concerto com nada mais do que o clássico “You Can’t Bring Me Down”. A partir daí, a cada clássico executado, eram formadas rodas mostruosas, formadas por dezenas de pessoas completamente insandecidas por poder presenciar ali em palco uma das maiores lendas vivas da história do hardcore e do skate rock, uma banda que foi e ainda é trilha sonora na vida de muitas pessoas ao redor do mundo, ditou tendências, e é influência para uma caralhada de bandas que existem até hoje.
Apesar das marcas do tempo já castigarem um gorduchinho e envelhecido Mike Muir, sem dúvida alguma o frontman surpreendeu com seu pique de moleque de vinte anos, igual naqueles velhos videos de show em VHS’s que você talvez já tenha visto da banda: correndo e pulando pra lá e pra cá, interagindo com a galera mandando ela repetir as iniciais da banda “S. T.”, as suas dancinhas esquisitinhas, tudo com aquele inconfundível carisma e simpatia digno de um verdadeiro frontman. Pessoalmente, presenciar um show do SxTx foi o realizar de um sonho para mim. Escuto a banda desde meus 16, 17 anos através de imundas fitinhas K7, justamente época em que eles vieram pela última vez ao Brasil, e eu não pude ir ao show deles. Ao longo destes quase 11 anos de espera houveram várias tentativas frustradas de trazer a banda ao Brasil, culminando com a última que foi no festival Claro Q É Rock, em 2005, quando a própria banda cancelou de última hora sua vinda, devido, o que me fez ficar tão puto na época que desisti de ir ao festival. Desta forma, nada pude fazer a não ser me arrebentar no pogo, ao poder ouvir e ver ali, ao vivo e em cores, o Suicidal tocar clássicos e mais clássicos do naipe de “Subliminal”, “War Inside My Head”, “Cyco Vision”, “I Saw Your Mommy”, “We Are Family”, “Send Me Your Money”, “Fascist Pig”, e outras mais. Um dos pontos altos da apresentação foi quando, ao tocar “Possessed to Skate”, um rapaz com um gigantesco moicano consegue driblar a segurança e sobe ao palco portando em mãos um skate, e lá faz uma manobra antiga do skate, chamada “Handplant”, que consiste em plantar bananeira com o skate. Nisso, seguranças conseguiram abordar o rapaz e o levaram na base da chave de braço para fora do palco. Ao perceber grotesco fato, Mike Muir saiu em disparada atrás do rapaz, ainda no meio da música, e depois de uns 30 segundos voltam abraçados Muir e o rapaz devolta para o palco! Pra quê: a multidão foi ao delírio, Muir voltou a cantar a música, e a mesma foi alongada por mais tempo que o normal, para que o skatista punk fizesse mais uma série de manobras no palco, culminando com uma bela pancada com o skate no chão do palco, comemorando toda a situação. Fudido.
Vale informar que a formação do SxTx que veio ao Brasil não contou com os irmãos Ron Brunner Jr. (bateria) e Steve Brunner (baixo), que até onde eu sei ainda são os músicos titulares da banda. Tentei pesquisar o porquê da formação ser diferente para este show por aqui, saber se os irmãos ainda estão na banda, e a única coisa que achei foi a formação que apresentou-se (muito bem, a propósito) no Maquinaria Rock Fest: Mike Muir (vocal), Mike Clark (guitarra base), Dean Pleasants (guitarra solo), David Hidalgo Jr. (bateria) e Josh Peden (baixo).
Infelizmente o show só não foi perfeito, pois acabou sendo curto demais para a importância da banda – 1 hora cravada – o que acabou fazendo com que a banda deixasse de finalizar seu setlist. Tive acesso ao setlist completo do show, e para meu desespero, por conta do tempo o Suicidal deixou de tocar nada mais nada menos que “Institutionalized”, “Lovely” e I Shot Reagan, sons estes que constavam no setlist na parte do ‘bis’. Foi frustante saber disso, mas enfim, não diminuiu a imensa magnetude do concerto, algo para ficar rememorando na mente até o fim da minha vida de cada um que esteve ali presente, e dá-lhe hematomas que serão espécie de troféus pelo resto da semana.
Entrando já no domingo, quem se apresentava era o grupo carioca Sayowa, fazendo um curioso e interessante som: um heavy metal recheado de percussões. A banda é mais um daqueles exemplos de banda que é pouco conhecida e valorizada por aqui e já bem reconhecida lá fora na gringa. Já possui oito anos de vida, fez turnês internacionais, e conta um recém lançado álbum que já está sendo distribuido pelo resto do mundo e contou com produção do Andreas Kisser do Sepultura e colaboração do Billy Graziadei do Biohazard. Belo currículo e um belo show, seguro, tudo certinho no seu lugar, porém, a banda faz um som que não é de tão fácil digestão à primeira audição, justamente pela proposta musical adotada. Somando-se à isso o fato de não ser tão (re)conhecida em sua terra natal, a empolgação do público com a banda foi apenas morna, talvez por ficarem cruelmente escalados para tocar logo após o Suicidal e anteceder o Biohazard. Vale destacar dois momentos do show em que tocaram duas covers com uma pegada bem diferente das originais, que acabaram por me impressionar até mesmo mais do que as próprias canções do grupo: tocaram “Seek and Destroy” do Metallica com percussão; e “Manguetown” do Chico Science & Nação Zumbi numa ‘bizarre heavy metal version’.
Regressando ao palco principal, era chegada a hora e a vez da (possivelmente) maior atração da noite apresentar-se: os nova-iorquinos do Biohazard. A lendária banda, pioneira em fundir o hardcore ao metal e elementos do rap, chega pela sua 4.ª vez ao Brasil, e desta vez com a sua turnê comemorativa de 20 anos de existência do conjunto, trazendo sua mais clássica formação composta por todos os membros originais da banda: Evan Seinfeld (vocalista e baixista), Billy Graziadei (vocalista e guitarrista), Bobby Hambel (guitarrista) e Danny Schuler (baterista). Essa turnê também marca o retorno da banda a ativa acontecida em janeiro deste ano, visto que esta havia encerrado suas atividades em 2006. O que se sabe é que a príncipio não é uma volta definitiva, a banda se reuniu apenas para esta turnê de comemoração e ainda não se sabe se após a tour a banda prosseguirá em frente. De qualquer maneira, privilegiados foram os brasileiros que puderam conferir este show com a formação clássica da banda, e com isso, logicamente, um show completamente recheado dos sons mais clássicos do grupo. Biohazard é uma outra banda da qual ouço há bons anos, tenho cds oficiais e tudo mais, nunca pude ir a um show deles, e sempre fui curioso para presenciá-los ao vivo. Ao iniciar o show com “Shades of Grey”, o que se via eram milhares de seres, muitos deles autênticos veteranos fãs do grupo com camiseta desbotada da banda berrando em coro faixa a faixa que foi executada a seguir. Coisa de cinema ou DVD. E dá-lhe muitos brutamontes fazendo as maiores e mais violentas rodas punk (circles pits) que já presenciei na vida. Coisa assustadora que o meu velho e franzino corpo não comporta mais, então, me ative a ficar longe disso e apenas assistir a essa pancadaria e ao show. E que show!
Como já citado, por se tratar de ser a formação original da banda, foram tocados apenas sons gravados nessa fase da banda, o que acabou me frustando um pouco, pois importantes clássicos da fase posterior a saída de Bobby Hambel da banda, como “H.F.F.K.”, “Sellout”, “These Eyes”, “Switchback” e até mesmo o mega hit “Authority”, infelizmente acabaram ficando de fora do setlist do show. Já da fase clássica, as ausências mais sentidas ficaram para “How It Is” e “Tales From The Hard Side” que também ficaram de fora. Mas em compensação, nada como poder ouvir ao vivo as poderosas “Victory”, “Punishment”, “Five Blocks to the Subway”, “Urban Discipline”, “Down For Life”, e outros clássicos mais. Monstruoso.
Um dos momentos mais fudidos do show, foi quando o Evan pediu ao público para que fosse aberta uma roda punk, mas que fosse uma gigante, a maior que já fosse vista no Brasil. E assim, ao meu ver, foi. Um gigantesco círculo foi aberto e só se avistava pessoas amontoadas para que aquele imenso clarão redondo no meio do Espaço das Américas fosse ficando cada vez maior. Com esse cenário, o Biohazard tocou uma versão matadora de “We’re Only Gonna Die”, clássico do Bad Religion, som perfeito para a completa destruição de pessoas ocorrida nesse circle pit, que mais parecia um furacão. Magnífico. Após a cover, saíram do palco, e numa espécie de ‘bis’ retornaram para tocar “Hold My Own”, fechando a apresentação que durou ao todo pouco mais de 1 hora.
Apesar do puta show, cabe relatar que próximo do fim do show, houveram alguns polêmicos fatos que, dependendo da ótica, uns acharam desrespeito e outros levaram como tom de brincadeira. Ao longo do show, todos da banda sempre tentavam conversar com o público, seja em inglês, em espanhol, e até um pouco de português. O Billy Graziadei, que é quem entende um pouco de português da banda – por possuir esposa brasileira -, percebendo que o público já estava morto e a falta de retorno do público quando ele falava – fundamentalmente ocasionada pela língua inglesa – falou ao microfone: “- vocês não me entender? the book is on the table!”, inclusive pedindo para que o público repetisse a caricata frase em inglês. A grande maioria riu, repetiu, e uns até bateram palmas. Mais ou menos em cima dessa idéia, no momento da imensa roda punk já citada aqui, o Evan soltou “- only gays guys in the circle pit”. Nessa hora haviam alguns seres pulando e outros desfilando no centro da ainda vazia e imensa roda com uma bandeira do Brasil e outra da cidade de São Paulo. Enfim, essas atitudes da banda dão margem à várias interpretações, que até já viraram debate acirrado no orkut. Sejam brincadeiras-irônicas ou prepotência/desrespeito da banda para com o público brasuca, o que interessou é que, apesar desses causos, de alguns erros no show, e da falta de um melhor ajuste de seus equipamentos, foi uma puta performance do Biohazard, que no fim das contas, certamente agradou a grande maioria.
Após o Biohazard, cerca de dois terços do público foram embora do evento, e com isso, dos que permaneceram para ver o evento, um tanto ficou papeando/dormindo, e o outro punhado de gente foi pela última vez para a frente do palco 2 para ver a banda equatoriana Muscaria. A banda já é veterana, estão prestes a completar 15 anos de estrada, e neste show tocaram um set de meia-hora despejando um bem executado metalcore em espanhol com um swing todo latino. Apesar das dificuldades de estar praticamente fechando o festival, ou seja, fazer um show quase sem público e com um equipamento que já não está na sua melhor performance, a banda fez a sua parte e não decepcionou. Confesso que eu já estava esgotado dos shows anteriores e usei este show para dar um belo cochilo, por isso, não fiquei ligado no show. Mas sem dúvida alguma, o maior destaque da banda que eu pude perceber, ficou para a sua imensa simpatia, qualidade que falta em muitas bandas. Se houvesse um troféu de ‘banda mais simpática’ do festival certamente iria para o Muscaria.
A esta altura eu já estava mais do que morto, com uma louca vontade de ir embora, mas para ver show de uma banda como o Matanza não dá nem pra dormir e nem ficar indiferente. Por mais que o cansaço e o sono batessem forte, pois já eram passadas mais de duas e meia da madrugada quando a banda carioca subiu ao palco, não é toda hora que posso presenciar um show dessa que é uma das mais prediletas bandas nacionais. Sem sombra de dúvidas o Matanza é uma das melhores bandas da atualidade do rock nacional, e o show dos caras é sempre animalesco. E isso ficou provado mais uma vez para quem aguentou ficar até o fim do Maquinaria Rock Fest. Cheio de bom humor e tiradas sarcásticas, o vocalista Jimmy é o último a adentrar o palco agradecendo ao público por aguentar até aquela hora para assistí-los, e aproveitando para cutucar a organização do evento com a frase: “- Puta que pariu, trocaram a gente de lugar com a banda ‘Tristona’ e por isso é que tamos tocando só agora aqui pra vocês, puta que pariu, muito obrigado por vocês terem aguentado até agora para ver essa banda filha da puta chamada Matanza!”. E começam quebrando tudo com a já hit “Ressaca Sem Fim”. O show foi todo baseado em cima do novo trabalho da banda, o DVD ao vivo “MTV Apresenta: Matanza”, ou seja, tocaram as maiores pérolas da banda dos seus três álbuns de próprias, como “Não Gosto de Ninguém”, “Ela Roubou Meu Caminhão”, “Pé na Porta, Soco na Cara”, “Interceptor V6”, “Clube dos Canalhas”, entre outras. Mas, o mais legal de tudo dessa apresentação, foi que assisti o show colado no palco, sem ninguém me empurrando, nem apertando, nem nada, bem diferente de todas as outras vezes que os assisti. Foi praticamente um ‘pocket-show’ de 45 minutos, ou seja, aquela sensação da banda estar tocando apenas para você e seus amigos, muito foda a apresentação. E aproveitei muito o show, gastei as minhas últimas forças e resto de voz nele com gosto.
E assim, passadas 03h30 da matina, era a hora de partir. Eu todo porco, suado, ca
sado, em estado de fim de feira, e com o frio do cacete lá fora, só me restou comer um salvador hot-dog fim de rolê, pra dar aquela última energia pra fazer a peregrinação de volta pra casa.
E a pergunta que não quis calar ao término do evento, foi: onde diabos está o Wally? Digo, a Jasmine St. Claire ? Para quem esperava ver a beldade de perto apresentando o festival, deve ter ficado muito puto. Maior bola fora do festival. Anyway, agora só resta assistí-la em algum porn movie, e que venha o próximo Maquinaria, quem sabe, com uma dupla do quilate de Silvia Saint e Joanna Angel apresentando, né?
Texto por Crixxx