Helloween e Gamma Ray em São Paulo

Por Júlio Verdi

Helloween e Gamma Ray – Um espetáculo de eficiência em São Paulo

Um domingo chuvoso em São Paulo. As tradicionais tardes cinzentas e o trânsito movimentado misturavam-se a grande expectativa que quase toda a cidade vivia por conta da decisão da semifinal do paulistão entre Palmeiras e São Paulo (onde a equipe verde se deu melhor). Até então eventos comuns para a maior cidade brasileira. Mas para os aficcionados em heavy metal aquele domingo seria especial. Afinal as duas talvez maiores bandas de metal melódico da história do estilo se apresentariam na cidade, e juntas, numa das melhores casas de espetáculos, o Credicard Hall.

Os portões da casa se abriram às 18 horas e uma incrível tranqüilidade tomou conta do local. Nada de filas, nada de transtornos ou atrasos. Tudo parecia um prelúdio pra noite histórica que se aproximava. Aos poucos, fãs de todas as idades e estilos iam tomando conta das dependências da casa. A expectativa crescia quanto mais se aproximava o início do show de abertura (se é que se pode chamar assim) do Gamma Ray, marcado para as 20 horas. E, sem atrasos, a banda de Kai Hansen adentra ao palco sob aplausos e gritos proferidos pela grande maioria dos presentes. Aliás, esse foi apenas um dos pontos em comum. Ambas as bandas tiverem igual recepção, igual adoração e uma forma exatamente igual de serem ovacionadas, mostrando que são admiradas e respeitadas da mesma maneira por todos ali presentes.

“Into the Stormâ€?, faixa do ultimo disco do Gamma, abre o show. Um grande espetáculo começava e outro ponto de destaque foi o palco. Um pano de fundo sensacional estampava o conceito de “Land of the Free IIâ€?, e nem mesmo a bateria do Helloween, escondida por um pano preto atrás da banda tirou a qualidade estética de sua apresentação. Kai Hansen dominou e cativou a grande assistência. Sua experiência e carisma são velhas conhecidas do público brasileiro. Na condução dos maiores sucessos da carreira de quase 2 décadas da banda, como “Heaven Can Waitâ€?, “Somewhere Out of Spaceâ€?, “No World Orderâ€?, ou “Land of the Freeâ€?, uma banda coesa e precisa agitou e despejou no público um espetáculo metálico agradável e certeiro.

Desde a energia de temas agressivos como “Fightâ€? à cadência empolgante de “Heavy Metal Universeâ€?, Hansen mostrou porque carrega a fama de ser um dos criadores deste estilo melódico de metal. Os pontos altos (se é que existiu algum inferior) da apresentação ficaram por conta da tão esperada “Ride the Skyâ€? (de seus tempos de Helloween), aclamada e interagida pela platéia e claro, em seu maior clássico, “Rebellion in Dreamlandâ€?. Essa música tem um poder incrível ao vivo e mostra que nunca pode faltar num show do Gamma Ray.

Uma apresentação perfeita, sem falhas. Uma banda empolgada e feliz com a reação da platéia. Acredito que esse tenha sido talvez o melhor show da banda por aqui, mesmo que em datas passadas sua condição tenha sido de headliner.

Meia hora de intervalo separou os 2 shows. Muito se comentava entre alguns presentes ali que o Helloween teria que se esforçar bem para fazer uma apresentação que não ficasse ofuscada pela magnitude expressiva que foi o show anterior de seus conterrâneos. Um festival de luzes apresentava a decoração de palco, obviamente inspirada também no conceito do último disco. Uma pintura muito linda, com o boneco da abóbora de cartola destacado numa placa no palco. No canto de cima do pano de fundo, o logo da banda sempre iluminado, mesmo nos momentos escuros, era o destaque. Visual perfeito, vamos à parte musical.

Não era surpresa para quase ninguém, pois com a internet, o set list de qualquer banda já é disseminado dias antes do show. Mas foi realmente interessante a banda abrir essa tour com a faixa “Halloweenâ€? e seus longos minutos de duração.

A exemplo do Gamma Ray o som de palco estava num estado máximo de perfeição, característica essa costumeira da casa.

Os fãs, novos e antigos, entraram em delírio com músicas que embalam sua cultura metálica há mais de 20 anos. Tanto temas novos como “As Long as I Fallâ€? e “The Bells of the 7 Hellsâ€? (do ultimo disco), “The King for a 1000 Yearsâ€?, quanto clássicos do passado como “Eagle Fly Freeâ€? e “March of Timeâ€? (essa, apesar do receio muito bem conduzida por Deris), foram cantadas em uníssimo por quase todo o público. Falando em Deris, o vocalista mostra-se que a cada dia, se transforma num dos melhores frontmans do estilo. Muito se discute (inutilmente, diga-se de passagem) mesmo hoje após 15 anos de sua entrada na banda, suas diferenças para Michael Kiske. Mas o cara tem um carisma e uma competência pra compor que pode-se dizer que hoje ele é tão Helloween quanto Michael Wektah por exemplo. Sua simpatia e sua perícia de comandar temas do passado que exijem muito de sua técnica, fazem com as músicas ganhem versões que funcionam sem aquele gostinho de “está faltando alguma coisaâ€?.
E em suas composições de sua era então a coisa flui geometricamente, como em “If I Could Flyâ€? ou “Sole Survivorâ€?. No final um questionável (para qualquer banda em minha opinião) medley com “Perfect Gentlemanâ€?, “Powerâ€? e um trecho pequeno de “Kepeer of the Seven Keysâ€? termina o set da banda, abrindo espaço para a já esperada jam com membros do Gamma Ray.

A despeito de boatos sobre uma possível briga entre as bandas no show de Curitiba, a execução de “Future Worldâ€? (com a bela troca de vocais de Deris e Hansen) e “I Want Outâ€?, mostrou as 2 bandas bem tranqüilas no palco. Evidente que são profissionais e poderiam com tranqulidade focar a musica acima de qualquer vaidade ou diferenças ocorridas naquele show, mas parecia sim que estavam num clima de amenidades.

E assim terminou essa noite histórica, que vai ficar marcada na memória dos fãs das 2 bandas. Uma noite onde tudo funcionou. A precisão e a eficiência imperaram em todos os sentidos. Mesmo o mais exigente dos consumidores de metal vai ter que esforçar e muito para encontrar algo ponto negativo na apresentação das 2 bandas. Qual foi melhor? Em minha opinião as duas foram as melhores. Gana, vontade, carisma, experiência, competência. Não faltou nada a nenhuma das duas bandas.

Júlio Verdi

Mais informações: Rock-RP

New York Dolls em São Paulo

New York Dolls
10/04/2008 – Hangar 110 – São Paulo/SP

Nem mesmo o calor do Hangar 110 em SP, foi capaz de atrapalhar o tão esperado show dos punks do New York Dolls.
David Johansen e Syl Sylvain últimos remanescentes da formação original se apresentaram, na ultima quinta-feira 10 de abril no Hangar 110, junto de Steve Conte, Sami Yaffa (ex-Hanoi Rocks) e Brian Delaney em show memorável aos fãs do velho punk.
Com seu visual glam a banda explode no palco com “Babylon”, o que já levou os fãs ao delírio, mas ali a noite estava apenas começando.
Esbanjando simpatia, Sylvain interagiu com os fãs várias vezes durante o show, assim como David Johansen que até distribuiu flores durante o show.
O público presente dividiu-se entre os veteranos que curtiam a banda desde seu início até os fãs de punk mais novos, e é claro aos amantes de glam rock que compareceram a caráter no Hangar 110.
Clássicos dos dois primeiros álbuns “New York Dolls” e “In Too Much Too Soon” rechearam o setlist da banda que não deixou de fora músicas essenciais como: “Human Being”, “Looking For a Kiss”, “Trash”, “Subway Train”, “Pills”, “You Can’t Put Your Arms Around a Memory” foram algumas das músicas que bombardearam os fãs, assim como a marcante cover de Janis Joplin “Piece Of My Heart”, presença constante em setlists de vários shows da banda.
Do último álbum “One Day It Will Please Us to Remember Even This” o público curtiu ao vivo “Plenty Of Music”, “Dance on the Lip of Vulcano”, “Punishing World” e “Dance like a Monkey”.
A simpatia também estendeu-se a Sami Yaffa que no final do show dividiu sua garrafa de vinho com os fãs brasileiros encerrando assim sua primeira apresentação em terras brasileiras.

Texto: Liza; Foto: Marcos Pádula

Ozzy em São Paulo e o encontro com Zakk Wylde

Black Label Society, Korn e Ozzy Osbourne – Parque Antártica/SP – 05/04/08

Por: Kleber Berata, Fabio Basseto e David Kadooka (Banda Triad)

O dia 05/04/08 sem dúvidas vai ficar marcado por muito tempo nas mentes de jovens e velhos fãs do tão aclamado príncipe das trevas Ozzy Osburne e de seu prodígio guitarrista Zakk Wylde, afinal foram apenas dois shows no Brasil em 23 anos(!).

Na verdade, nossa aventura começou na madrugada do dia 04 quando tivemos a oportunidade única de conhecer ninguém menos que Zakk Wylde, e acreditem, não foi nada fácil.
Depois da corrida desenfreada para chegarmos no Hotel Transamérica, a dúvida do encontro definitivo com Zakk já era algo perturbador pois anciávamos demais por esse momento. E, claro, como fãs incondicionais dele sabíamos muito bem de seu temperamento um pouco difícil.
Entramos pelo saguão do hotel e nos dirigimos ao bar onde supostamente dez minutos antes Zakk tinha tocado o piano que havia no local e subido para seu quarto.
Foi então que após algumas cervejas e já cogitando a possibilidade de fracasso, ouvimos a voz grave e os passos daquela figura enorme e de um andar característico.
Sim! Era Zakk Wylde, que se mostrou uma pessoa fantástica. Fomos muito bem recebidos. É realmente impressionante sua gratidão. Como prova maior disso, ele beijou a tatuagem das siglas S.D.M.F de um amigo nosso mostrando todo seu respeito. Porém não demorou muito para seu lado descontrolado vir à tona. Depois de uma melodia tocada no piano, Zakk disparou um soco nas teclas mostrando-se extremamente irritado e subiu para seu quarto depois de sermos saudados novamente. O que prova também que sua fúria é algo inteiramente pessoal e não tem nada a ver com seus fãs que tanto adora.
Para quem não sabe, a sigla S.D.M.F significa em português “força, determinação sem piedade para sempre” – o lema da Black Label Society.

Por fim chegou Sábado, o dia tão esperado. Estádio lotado em frente a uma bandeira gigantesca do Black Label Society.
Depois da introdução maravilhosa, começa o show que, apesar de curto foi suficiente pra levantar todo mundo, Zakk metralhava sua guitarra e levava o público a loucura em meia a seus solos maravilhosos, socos no chão e sinais-da-cruz.

Poucos minutos depois entrou o Korn, fez um show muito bom apesar de não ser a banda foco do evento, despertando a atenção de muita gente que acredito que, como nós, não conheciam muito a banda.
Terminado o show do Korn, nervos a flor da pele, era muito tempo esperando para ver o velhinho.

O estádio apaga e começa um especie de trailer de cinema deixando o público confuso, quando rapidamente todos entendem o ocorrido. Nos telões do estádio era exibido uma sátira de filmes e seriados (Lost e Piratas do Caribe para citar alguns) com Ozzy atuando de forma cômica nas cenas.
O que se teve depois foi algo realmente inesquecível, um repertório muito bacana. Pena que faltou “Fire in the sky”.
“I don’t wanna stop” foi a canção de abertura já agitando o estádio, mesmo sendo uma canção recente. “Bark at the moon” foi a segunda, aí sim, levando todos à loucura.
“Suicide solution”, “Mr. Crowley”, “Not going away”, “War pigs”, “Road to nowhere”, “Crazy train”, “Iron man”, “I don’t know”, “No more tears”, “Here for you”,I don’t want to change the world”, “Mama I’m coming home” e “Paranoid” foram as que completaram o resto do repertório incrível de uma noite inesquecível.
Tudo isso sem contar incontávéis fatos que rechearam o show, como o fato do sangramento incontrolável da mão de zakk durante seus solos e seguindo assim até o final do show (que segundo informações foi a causa de uma explosão de raiva de Zakk no camarim antes da apresentação, onde ele literalmente destruiu tudo gritando coisas sem sentido). E Ozzy esbanjando irreverência, bebendo em uma caneca estilo vovô, fora mais uma vez o Sr. Wylde mostrando sua “personalidade” jogando um dos cabeçotes de guitarra para o público. Simplesmente memorável!!!

Set-list das bandas :

Black Label Society:
01- New Religion
02- Been A Long Time
03- Suffering Overdue
04- Bleed For Me
05- Suicide Messiah
06- Fire It Up
07- Concrete Jungle
08- Stillborn

Korn:
01- Untitled Intro
02- Right Now
03- A.D.I.D.A.S.
04- Hold On
05- Falling Away From Me / Open Up Outro
06- Coming Undone / We Will Rock You
07- Here to Stay
08- Faget
09- Freak on a Leash
10- Evolution
11- Somebody Someone
12- Got the Life
13- Blind

Ozzy Osbourne:
01- “I don’t wanna stop”
02- “Bark at the moon”
03- “Suicide solution”
04- “Mr. Crowley”
05- “Not going away”
06- “War pigs”
07- “Road to nowhere”
09- “Crazy train”
10- “Iron man”
11- “I don’t know”
12- “No more tears”
13- “Here for you”
14- “I don’t want to change the world”
Bis:
15- “Mama, I’m coming home”
16- “Paranoid”

Iron Maiden em São Paulo

A banda britânica Iron Maiden tocou neste domingo (02/03) o primeiro show brasileiro da turnê Somewhere Back in Time World Tour 2008 em São Paulo no estádio Parque Antártica para quase 40 mil pessoas (ingressos completamente esgotados). Essa nova turnê se tornou especial por englobar somente os clássicos da banda The Number of the Beast” (1982), “Piece of Mind” (1983), “Powerslave” (1984), “Somewhere in Time” (1986) e “Seventh Son of a Seventh Son” (1988). Todos os cenários e figurinos eram de acordo com as músicas tocadas.

Quem abriu o show foi Lauren Harris, filha do baixista Steve Harris. Excelente banda, músicos competentes… mas não empolgou. Ficou a impressão que muitos fãs só não criticaram a banda em respeito ao Steve Harris.

Depois de uma breve e forte chuva de verão, estava na hora de entrar no palco a banda principal. A introdução com a voz de Winston Churchill já era esperada, mas não adiantou… a adrenalina explodiu nas primeiras palavras e o começo de Aces High levaram os fãs à loucura. Bruce Dickinson (vocal), Steve Harris (baixo), Adrian Smith, Janick Gers e Dave Murray (guitarras) e Nicko McBrain (bateria) deram um verdadeiro show de talento, simpatia e presença de palco. É difícil acreditar que eles já passaram dos 50 anos. Apesar do som um pouco fraco, a produção estava impecável e o único ponto negativo foi a ingrata “pista especial” que foi totalmente reprovada pelo público na última enquete do Agenda Metal. Uma pena que a produção insista em faturar em cima dos fãs e ainda dividindo a platéia…

O ponto alto da apresentação foi a seqüência “Run to the Hills”, “Fear of the Dark” e “Iron Maiden” (esta última, com “participação especial” do mascote Eddie, em sua versão futurista). Era impressionante como o público conseguia cantar mais alto que a própria banda, fazendo um coro único. Foi de arrepiar. Depois de quase 2 horas, o espetáculo chegou ao fim. Deu pra notar o ar de satisfação de cada headbanger presente nesse show histórico. Agora é só esperar a já anunciada volta em 2009.

Set-list:
(Intro)
1. Aces High
2. 2 Minutes To Midnight
3. Revelations
4. The Trooper
5. Wasted Years
6. The Number Of The Beast
7. Can I Play With Madness
8. Rime Of The Ancient Mariner
9. Powerslave
10. Heaven Can Wait
11. Fear Of The Dark
12. Run To The Hills
13. Iron Maiden

14. Moonchild
15. Clairvoyant
16. Hallowed Be Thy Name

Por Alexandre Schneider/UOL
Veja o álbum completo:
http://musica.uol.com.br/album/iron_maiden_sp_album.jhtm

Entrevista exclusiva com o empresário Paulo Baron da Top Link Music

A Top Link Music, Production and Management, responsável por inúmeras turnês de bandas internacionais por toda a América Latina e Europa, completou 17 anos em 2006, tendo produzido mais de 3.500 shows. Em entrevista exclusiva ao Agenda Metal, o fundador da Top Link Music, Paulo Baron, nos conta curiosidades, novidades e esclarece dúvidas sobre o Live N’ Louder.

Vamos começar falando um pouco sobre a história da Top Link Music. Atualmente vocês têm produzido shows no Brasil, Chile, Argentina, Colômbia, Bolívia, Peru, El Salvador, Costa Rica, México, Panamá e Guatemala. Como tudo começou?
Paulo: Tudo começou em 1989 quando eu morava na Inglaterra e um amigo me convidou pra me envolver no mundo dos shows. Naquela época eu estudava cinema e estava sempre buscando uma forma de me entrosar também no mundo da música.

Qual foi a primeira banda internacional que vocês produziram shows no Brasil? Qual foi a maior dificuldade?
Paulo: Foi em 1993 com Rick Wakemann na turnê Wakemann & Wakemann. A maior dificuldade era que eu não conhecia muito o Brasil em termos de shows, não conhecia praticamente ninguém e naquela época não tínhamos a facilidade da internet e pra completar eu ainda morava na Inglaterra. Tudo tinha que ser feito por telefone ou por fax. Assim você pode imaginar as contas de telefones que tínhamos naquela época e muitas vezes os fax não chegavam com a informação correta, tudo era mais artesanal.

Dentre as inúmeras produções, a Top Link Music tem trabalhado com mais de setenta artistas. Poderia compartilhar algum momento marcante ou especial, nessa trajetória?
Paulo: Acho que todos os shows têm alguma coisa especial, principalmente porque estamos acostumados a trabalhar com artistas que temos algum tipo de simpatia. De qualquer forma se tivesse que escolher alguns momentos inesquecíveis, seriam com certeza os dois Live N’ Louder, principalmente porque quando eu era um garoto gostava muito de Van Halen e Scorpions. Inclusive tive oportunidade de vê-los ao vivo quando tinha 13 ou 14 anos de idade. Sentir que eles estavam trabalhando pra mim em um evento meu foi muito importante pra minha trajetória profissional e grande motivo de orgulho.

Desde o Monsters Of Rock, o Brasil esteve muito carente em relação aos grande festivais. Como surgiu a idéia do Live N’ Louder? Quais as dificuldades de realizar um grande festival no Brasil?
Paulo: A idéia surgiu em 2004, inspirado justamente no Monsters of Rock. Percebemos naquela época que o Brasil estava carente de um grande festival de rock/metal. As dificuldades de realizar um festival são muitas, posso destacar algumas delas:
a) Alto custo;
b) A logística: Para organizar um festival do porte do Live, levamos de 9 meses a 1 ano para organizar tudo e isso também envolve muitas pessoas. Pra você ter uma idéia, o tempo que eu levo para realizar um festival desse porte, eu preciso dedicar aproximadamente o mesmo tempo que levaria pra realizar 9 turnês pela América Latina, turnês estas que me trariam mais lucro e haveriam menos gente invejosa querendo que as coisas dessem errado (parece que trabalhando desta maneira eu passo mais “despercebido”);
c) Também a parte burocrática os órgãos brasileiros são muito exigentes, mas ao mesmo tempo muito lentos.
d) Existe um monte de pessoas invejosas envolvidas na cena rock/metal (como eu já citei antes), que por incrível que pareça torcem para que de tudo errado;
e) Lidar com tantas bandas, lidar com diferentes formas de pensar e com diferentes perspectivas de encarar um festival;
f) Os fãs ficam exigindo um festival e na hora que ele acontece, eles não apóiam e não comparecem ao festival porque gostaria que as 12 bandas fosse do agrado dele;
g) Dificuldade pra encontrar um patrocinador: sem patrocinador este evento não se sustenta.
h) As gravadoras e revistas não apóiam como deveriam, todo mundo quer levar uma mordida do bolo;

Como foi o cancelamento da apresentação do Testament na primeira edição e o Black Label Society na segunda? Mesmo com as passagens na mão, o Saxon também cancelou sua participação no Louder. Qual o motivo?
Paulo: Com o Testament eles já tinham cancelado comigo duas outras vezes, uma em 2000 e outra em 2002 por causa do estado de saúde do Chucky Billy. E a terceira (3 dias antes do Live N Louder) que começava no México, eles tiveram problema com troca de guitarrista e segundo a informação que me chegou, o novo guitarrista não estava preparado para fazer um show deste tipo.
É engraçado que o Testament esteja agora fazendo esta turnê e esteja dando certo. Que bom para os promotores, tiveram muita coragem, já que quando me ofereceram novamente a banda eu falei que nunca mais faria.
O Black Label Society foi uma situação muito estranha que ate o momento não entendi. Eles me procuraram, eles queriam tocar o máximo de shows possíveis, cedemos tudo o que eles pediram, o cachê foi pago 100% antecipadamente e no fim inventaram a coisa mais idiota do mundo: me comunicaram que eles não poderiam comparecer no festival porque o disco estava saindo uma semana antes do previsto e eles teriam que começar uma turnê na América do Norte 3 dias antes do Live N’ Louder. Acho que isso é coisa de americano mesmo, eles não levam as coisas a sério, ou vêem nós, os latinos que moram na América Latina, do mesmo jeito que eles vêem os latinos que moram lá nos EUA (com desrespeito e preconceito).
Quanto ao Saxon, eles me desapontaram muito devido à amizade pessoal que eu tenho com a banda há muitos anos. Já fiz mais de 20 shows com a banda nos últimos 8 anos. Inclusive me encontrei com o baixista Nibs na Alemanha e com Thomas (empresário da banda) e o mesmo Thomas me pediu pra ver se eu poderia colocar eles como headliner ou co-headliner, ate pensamos na possibilidade de trazer a “águia” e fazer aquela produção que eles fazem na Europa, ainda bem que não fizemos se não estaríamos ferrados mais ainda. A situação deles acho que foi mais vergonhosa no meu ponto de vista, porque além de ter todo o cachê pago, eles já tinham as passagens de avião compradas e no festival do México, mandamos os motoristas buscarem a banda no aeroporto e a banda simplesmente não chegou. Fora, passar o estresse de tentar ligar no telefone deles mais de 40 vezes pra tentar conseguir uma explicação. Então fiquei sabendo por um musico de outra banda, que o Saxon estava tendo problemas no estúdio com um produtor. O que eu fiz foi mandar uma mensagem por este músico diretamente pro Biff pra que eles pelo menos se pronunciassem pra ver se tocariam pelo menos no Brasil.
Foi uma situação muito desgastante. Eu ainda espero encontrar a banda um dia e pelo menos receber um pedido de desculpas pelo acontecido.
Sei que todos nós temos nossos contratempos, mas mesmo quando você vai chegar tarde numa reunião você deve ligar pra avisar. Acho que isso faz parte do respeito ao ser humano.

É mais fácil trabalhar com os grupos europeus ou norte-americanos?
Paulo: Antigamente eu achava melhor trabalhar com bandas européias, mas depois do que aconteceu com o Saxon, acho que agora é igual. Antes eu pensava que as bandas americanas eram mais desrespeitosas do que as européias.

Qual o critério utilizado para a escolha dos headliners? Particularmente achei eles (Scorpions e David Lee Roth) ótimos!
Paulo: O critério é que a banda seja uma banda clássica, aquelas que foram ou são parte da cultura do rock. E como estas bandas são mais caras, fazemos uma análise para ver se elas vão trazer um mínimo de público necessário para cobrir o custo de tal headliner.

Como já noticiado no Agenda Metal, a Top Link Music não tem planos para uma edição do Live N’ Louder esse ano, provavelmente só em 2008. Qual o motivo?
Paulo: O motivo principal é que fiquei muito cansado com o acontecido em 2006. Pouca seriedade por parte de algumas bandas (as que não compareceram), muita fofoca (um exemplo disso, se você entra no orkut, vai ver a infantilidade de algumas pessoas), acho isso um absurdo, porque se as pessoas soubessem o que custa chegar a ser um músico profissional e muito mais, ser escolhido para o cast de um festival, não estariam pensando em qual banda é melhor, e sim pensando no que pode representar um festival deste não só para Brasil, mas América Latina. Você esta oferecendo 12 bandas pelo preço de 1!!! Acho que o Brasil talvez não esteja preparado ainda pra encarar grandes festivais. Como você pode ver as bandas aqui devem estar na moda pra reunir grandes massas.
As revistas não apóiam o que deveriam apoiar, ficam mais interessados em festivais que acontece fora do país do que com os que acontecem no Brasil. Também as gravadoras ajudam muito pouco com a promoção do evento. Então me pergunto, pra que se esforçar tanto pra fazer um festival deste porte se as pessoas não valorizam????
E o mais ridículo é que na hora do credenciamento, os mesmo caras que não apoiaram ou os caras que criaram rumores de que o festival estaria cancelado, se matam por uma credencial “all access” ou você vê eles no hotel. Isso não quer dizer que o festival não acontecerá novamente, mas só farei se a gente conseguir um bom patrocinador. Faremos uma última tentativa. Neste momento estaremos com muitas turnês ate o mês de novembro. São mais de 50 shows e esta é nossa prioridade. Mesmo assim a esperança é a ultima que morre.

Agora pessoalmente. Diga cinco bandas que você gostaria de ver em um mesmo festival no Brasil.
Paulo: Ozzy Osbourne, Van Halen, Motley Crue, Deff Leppard e Queen. Tomara que exista alguém com peito suficiente pra fazer um evento deste (rs).

Para este ano já temos confirmado shows do Symphony X em junho, programado Scorpions para agosto e Therion para setembro. A Top Link estaria negociando a vinda de mais alguma banda ao Brasil? Poderia nos adiantar algo?
Paulo: Estamos com mais duas turnês bem legais confirmadas, mas que só poderei anunciar em breve.

No último dia 18 foi confirmada uma inusitada notícia: Show do Symphony X em Manaus. Vocês já promoveram algum show naquele estado? Como você definiria a situação atual do Brasil, em relação aos shows internacionais?
Paulo: Lutamos muito para fazer este show em Manaus. Quando eu era empresário do Shaaman fomos pra lá e foram muitas pessoas no show, já que existem muitos headbangers lá e eles recebem muito poucos shows internacionais. Parece que nestes lugares o público valoriza mais quando chega uma banda de fora. É complicado chegar em Manaus por causa do custo de passagens, mas demos um jeito que ficasse legal para a turnê, fazer este show. Espero que os fãs não só do Symphony X, mas do metal em geral, apareçam em massa para fazer possível a vinda de várias outras bandas a esta cidade.
Acho que estão chegando muitos shows internacionais no Brasil e os fãs estão com pouco dinheiro pra poder assistir a todos. Claro que é legal ver todas essas grandes bandas passando por aqui, mas não tem bolso que agüente.

Gostaria de agradecer a entrevista, e parabenizar a Top Link, pela seriedade, qualidade e respeito com os fãs.
Paulo: Valeu Danilo. Obrigado pelo espaço cedido à Top Link Music e espero que esta entrevista tenha esclarecido dúvidas do público e espero que a cena rock/metal continue crescendo!!!