Donita Sparks & The Stellar Moments, MQN e Hats
23/02/2008 no Clash Club – São Paulo/SP
Não, não, não. O fim do L7 não foi decretado oficialmente. Mas para alegria dos milhares de fãs ao redor do mundo, Donita Sparks e Dee Plakas (respectivamente, vocalista e baterista) da explosão rocker grunge dos 90, vieram ao Brasil praticamente estreando a tour do recentíssimo lançamento “Transmiticate”, do projeto solo “Donita Sparks and The Stellar Moments“. Lançado pela gravadora própria com o sugestivo nome de Cash Music – num projeto fantástico que vale a pena conhecer.
Pequena movimentação na porta da casa, um pouco antes do primeiro show de abertura acontecer.
Uma escalação de responsa, com duas bandas super conhecidas e com muito destaque e fãs no meio independente – a noite prometia ser, como todos esperavam, de muito rock n´roll.
Pra botar fogo no palco e na galera, a primeira foi a Hats. Trio feminino de SP, que como se auto-defininem, tocam rock, peso com letras de amor e ódio. As experientes Cherry (bateria e vocal), Eliane (guitarra e vocal) e Helena (baixo e vocal), que fizeram parte de bandas também importantes como Okotô, Lava, Dominatrix e Pinups, é que comandam a festa.
Lançando seu mais recente trabalho “Locas in love” (pela Thirteen Records) a banda tocou, entre outras, os três sons que já disponibilizaram no myspace, “Ikimashô”, “Pássaros” e “Delirium Delight”. Um show cheio de energia, mas que acabou sendo um show para poucos, devido ao pouco público presente, o que infelizmente não mudou muito até o fim da noite.
A Clash que tem uma capacidade variável entre 200 a 1000 pessoas, estava com no máximo umas 200 e poucas. O novo visual com telões (um de cada lado do palco) e uma área vip lateral, com vários camarotes, fora o mezanino, deu mais charme a casa, deixou mais bem distribuido e mesmo assim não fez perder o belo espaço pra shows.
Em seguida foi a vez do trio goiano MQN. Eles se auto-definem como uma banda que faz shows incendiários e discos envenados, mas nem todo o veneno foi suficiente para dar um gás na galera, apesar das músicas nervosas cantadas em inglês e de todos os esforços do vocalista e da banda.
Uma troca de palco demorada, deixando todos os presentes mais anciosos e impacientes.
Enquanto nada acontece, o guitarrista Scott faz fotos da galera de cima do palco. Logo a banda começa a tomar seu posto, os primeiros acordes começam enquanto Donita não chega. E eis que surge, loiríssima, com uma camisa cinza e um laço vermelho no pescoço, calça xadrez. Na moda. E tal qual o show da noite passada em São José dos Campos, abriram com “Infacy of a Disaster”.
Todos da banda estavam super animados e Donita continua sendo uma frontwoman como poucas, agitando o tempo todo; assim como deixando claro que teria sim, músicas do L7 no set, mas que o trabalho agora é com o The stellar Moments.
Ficou claro que Donita não gostaria de ter de tocar as músicas do L7, porque o objetivo, claro, é dar enfase ao seu novo trabalho. Que é rock n´roll sim, mas recheado de influências como B52´s, Kraftwerk e Ramones (sempre). E a maioria estava lá mesmo esperando pelos grandes hits. Várias câmeras e celulares pipocando flashs e Donita comentou: “Nossa, vocês gostam mesmo de tirar fotos”.
Ela dedicou “Curtains for Cathy” à equipe da loja London Calling, presente em peso e que promoveram mais uma inesquecível tarde de autógrafos horas antes do show (as fotos dessa tarde de autógrafos você confere aqui logo mais).
A Stellar Moments é, além Dee Plakas na batera, Dat T. Ngo no baixo e Alan “The Italian” Santalessa na guitarra. Scott, o outro guitarrista, não é um membro oficial da banda, só pega na guitarra quando Donita não está tocando e pra manter o peso das duas guitarras nos sons. Banda super competente e que é parte do espetáculo, não uma mera coadjuvante do Donita.
Como o novo disco foi lançado há pouco menos de 10 dias, muita gente ainda não conhecia os sons novos que estão disponíveis no myspace oficial dela e na sua página no tramavirtual (será que ela vai participar do download remunerado também? rsrs) e, enquanto a galera pedia e esperava por L7, tocaram “Dare Dare” que, na minha modesta opinião é a candidatíssima a hit e que traduz bem o novo estilo que Donita procura mostrar e que traz na bagagem toda essa mescla de influências.
Logo em seguida, cedendo aos apelos a clássica “Shitlist” que enfim, colocou todo mundo pra pular e cantar junto. Ao final Donita diz “Eu sou Jesus, podem pedir o que quiser. Ou melhor, sou a irmã de Jesus”. Sinal de que o público podia então pedir que mais das antigas rolariam com certeza.
Para quem teve oportunidade de ouvir os sons novos antes do show, percebeu que ao vivo não tem jeito, é rock n´ roll pra valer. As músicas novas, mais trabalhadas e calminhas do disco tomam outra forma no palco. O objetivo dela com esse novo projeto é resgatar o rock pra dançar, pra se divertir. Em entrevista recente ao site Suicide Girls (inclusive anunciando estes shows no Brasil) ela comentou sobre isso, sobre o rock ser divertido. E “Need to numb” deixou isso muito claro. A voz rasgada, a energia continua lá, fervilhando e chamando a galera pra curtir. O rock só foi quebrado por duas baladinhas, uma que ela dedicou aos casais e apaixonados, “My skin´s too thin”, e outra para os caras bonitos do local “He´s got the honey”, que está com download gratuito no site da gravadora supra citada.
Praticamente todas as músicas do disco haviam sido tocadas, um pequeno intervalo quando Donita ajeita a guitarra e avisa “Ok, vamos tocar mais sons do L7 mas só estou fazendo isso por vocês. Dee e eu não tocamos essas músicas há pelo menos 8 anos então se acontecer algum erro, nos perdoe”. E o grande hit esperado, “Pretend we´re dead” pôs a casa abaixo. No finalzinho, ainda rolou o “A la la” do Cansei de Ser Sexy, num remix que deu super certo. Saem do palco sem mais delongas, o povo não agita o bis e termina assim.
A banda ainda tem muito a amadurecer a idéia do que será este novo projeto, afinal, foi só o começo. Foi uma honra tê-la de volta e ser o primeiro pais fora do EUA a prestigiar esta nova fase.
Agradecimentos especiais a: Lissa e toda equipe da London Calling, André Santos (assessor da Clash) e Renato da Ataque Frontal – sem a ajuda de vocês essa resenha não seria possível. Valeu galera!
Andréa Ariani
andreaariani@hotmail.com