Orphaned Land em São Paulo
(Hangar 110, Dia 30/05/2013)
por Alexandre Silva
Eis que, após grande espera dos admiradores desta que é a banda mais “sem rótulos” da cena Metal mundial, surge a grande chance de o público paulista conhecer o Orphaned Land ao vivo. E olha que, logo de cara, andando pela fila, se via muitas e muitas pessoas com ansiedade estampada no rosto e com uma disposição digna de um guerreiro a caminho da paz e liberdade (qualquer semelhança desta analogia com a abordagem do álbum “The Never Ending Way Of OrWarrior” da própria banda é mera coincidência) para encarar um feriado de Corpus Christi frio, nublado e monótono.
A banda, que esteve no Brasil pela primeira vez em 2012 para finalizar a turnê de então último álbum (no fatídico M.O.A., lembram-se?) antes de entrar em estúdio para criação e finalização de “All Is One” (quinto trabalho do grupo que tem seu lançamento agendado para 24 de Junho via Century Media Records), foi uma das poucas “sobreviventes” do cast do evento. Desta vez, apesar do novo CD ainda não ter sido lançado, o público podia esperar algumas novidades nesta apresentação (algumas músicas foram expostas pela banda e pela gravadora através das redes sociais, e até o vídeoclip para a faixa “Brother” já está disponível).
Este evento contaria ainda com a presença da banda Seventh Seal (nascida em Santo André/SP em 1995), que às 19h55 subia no palco do Hangar 110 mostrando os frutos de seus trabalhos “Premonition” de 2001 e “Days of Insanity” 2007, além de algumas faixas que devem fazer parte de seu novo álbum, ainda sem título e nem data de lançamento definidos. Quanto ao desempenho da banda, apesar de alguns problemas com relação ao áudio no início da apresentação, o Seventh Seal fez um show digno de um representante do Metal Nacional. Houve até uma versão para os clássicos absolutos “Heaven And Hell”/”Neon Knights”, do Black Sabbath, para ajudar a quebrar a tensão de todos os presentes, ainda ansiosos sob os minutos finais antes do aguardado grande momento de curtir o som dos israelenses.
Finalmente, às 21h07, começa a peculiar introdução para o início do setlist do Orphaned Land. Primeiramente (e como normalmente se vê nas demais aparições ao vivo da banda em outros países), entra Matan Shmuely (bateria), após alguns instantes, entram Yossi Sassi (guitarra e bouzouki, que ele denomina como “Bouzoukitara”), Uri Zelcha (baixo), Chen Balbus (guitarra) e, ao fim da abertura, Kobi Farhi (voz). O show começa com “Barakah”. E a galera se inflama totalmente, algo que até então não havia ocorrido. É o fim da espera!
Logo ao fim desta faixa, Farhi agradece a presença do público em limpo e claro Português e brinca, alertando de que ele não era Jesus (já em Inglês), arrancando risadas dos “felizes presentes” e já chamando a próxima música da noite, que foi “The Kiss Of Babylon (The Sins)” do belíssimo “Mabool: The Story Of The Three Sons Of Seven”, lançamento de 2004 que sacramentou o trabalho da banda para o mundo. “Birth Of The Three (The Unification)”, do mesmo álbum, foi a terceira música do espetáculo, que antecedeu a primeira novidade da banda: “Our Own Messiah”, pertencente ao vindouro “All Is One”. O áudio da banda era muito bom, apesar da leve dificuldade (talvez estranheza por parte dos músicos da banda e da própria plateia) quando não havia o retorno e/ou execução dos samples de algumas passagens. Para os mais perfeccionistas, a única inconstância notada nos músicos foi ao início da apresentação, quando a “Bouzoukitara” de Yossi Sassi mostrava uma timbragem um pouco mais “seca” que o normal. Situação que em nada comprometia a execução de “Barakah” e foi resolvida logo; a próxima música da noite já era tocada de igual sonoridade com o restante do line up de seus colegas de trabalho.
Tivemos em São Paulo a dobradinha “Sapari”/ “From Broken Vessels” como no álbum “The Never Ending Way Of OrWarrior” dando sequência ao show. A interação da banda com o público era intensa e quebrava as barreiras dos diferentes idiomas, por exemplo. Havia coro de praticamente todas as músicas, independente de ser algo cantado em Inglês ou em Hebraico (que até eu arriscava cantar). Todos os membros do Orphaned Land, a sua maneira, mostravam entrega e prazer pelo momento. Era uma celebração de povos diferentes em prol do Metal; Uma verdadeira festa no Hangar 110!
Ainda fomos agraciados com a execução da linda “Let the Truce Be Known”, que também nos será popular em junho deste ano, com o lançar do novo trabalho. “The Path, pt. 1: Treading Through Darkness” foi “a viagem” da noite, com seu extenso e complexo instrumental. Momento este de atenção e certa introspecção do público antes de “Ocean Land (The Revelation)” trazer todos numa só voz.
O primeiro acionamento do Bouzouki de Sassi veio em “El Meod Na’ala”, do “El Norra Alila”, de 1996. E aproveitando esse momento “cultura árabe”, foi a vez de “Olat Ha’tamid”, cheia de gás, pôr todo mundo pra bater cabeça e pular ao mesmo tempo. Tamanha era a adrenalina neste instante, que Matan (bateria) sai do palco no fim da música devido a um pequeno machucado na mão (conforme dito por Farhi em seguida do ocorrido).
Dado os dois minutos pedidos pelo próprio Kobi Farhi, é a hora de nos remetermos a demo “The Beloved´s Cry”, de 1993, e ao som de Yossi Sassi e seu bouzouki cantar a música título deste trabalho, que fora relançada em 1994, com o primeiro álbum de estúdio, o “Sahara”, que saiu pelo selo francês Holy Records. Com apenas os dois presentes (Yossi e Kobi) no palco neste instante, a banda também mandou “The Storm Still Rages Inside” em adaptada versão acústica do hino que encerra a trama escrita em “Mabool”. Após essa canção, que foi de arrepiar e comover a todos que cantavam a melodia, a banda se completa com o retorno dos demais músicos e mandam a pesada “Halo Dies”, voltando a agitar o ambiente. Logo após, todos os integrantes da banda saem do palco.
Do público, completamente extasiado diante do espetáculo vivenciado dentro da casa localizada na zona norte de São Paulo, não era difícil ouvir gritos pedindo por “Sahara Storm” (“Sahara”, de 1994)/ “Seasons Unite” (“Sahara”, de 1994)/ “Find Yourself, Discovery God” (álbum “El Norra Alila”, de 1996), porém faltava uma “determinada música”, que, aos poucos, começou a ser cantada pela própria plateia, que aguardava o retorno do grupo para o fim da noite (detalhe, novamente o idioma Hebraico não foi dificuldade para os presentes).
Então, surge o Orphaned Land no palco do Hangar 110 para atender ao pedido dos fãs. Algo que chama a atenção é o fato de Kobi Farhi (que em entrevistas passadas já havia se declarado fã do futebol de nosso país) entrar vestindo uma camiseta da Seleção Brasileira sobre sua túnica preta. E sendo assim, “Norra El Norra”, música também presente em “Mabool”, com muita alegria e peso, colada a um trecho instrumental de “Ornaments Of Gold” do CD “Sahara”, encerram a noite. A todos os presentes, a satisfação na realização deste show tão aguardado por muitos foi explicada em cada música executada, além da enorme simpatia que a banda em nenhum momento deixou de mostrar e de forma sincera, uma vez que claramente estavam felizes por excursionar pela América do Sul e exercer seu trabalho (a música), que é sua linguagem universal; a sonoridade impar e incomparável do Orphaned Land.
Setlist – Orphaned Land
1. Barakah
2. The Kiss of Babylon (The Sins)
3. Birth of the Three (The Unification)
4. Our Own Messiah
5. Sapari
6. From Broken Vessels
6. Let the Truce Be Known
7. The Path, pt. 1: Treading Through Darkness
8. Ocean Land (The Revelation)
9. El Meod Na’ala
10. In Thy Never Ending Way
Encore 1:
11. The Beloved’s Cry
12. The Storm Still Rages Inside
13. Halo Dies (The Wrath of God)
Encore 2:
14. Norra el Norra (Entering the Ark) / Ornaments of Gold